UM CORDEL PARA JORGE AMADO
residente em Salvador
Se não foi, peço que vá!
Jorge Amado ainda vive
Em cada canto de lá
Nas ruas, igrejas, danças
Nos costumes, nas lembranças
E nas águas de Iemanjá!
Precisa estar antenado
Lá no Pelourinho existe
A Casa de Jorge Amado
Um acervo bem completo
Organizado e repleto
Da vida do nosso bardo.
Que não cabe no papel
Mesmo assim fiz um resumo
No afã de ser fiel
Para homenagear
Jorge Amado – o avatar
Nesse singelo cordel.
Coroado de magia:
Mil novecentos e doze
10 de agosto foi o dia
No arraial de Ferradas
Como num conto de fadas
Itabuna, na Bahia.
Por entre campos floridos
A singela companhia
Dos seus dois irmãos queridos
Que cresceram ao seu lado:
Joelson e James Amado
Seus parceiros preferidos.
E dona Eulália Leal
O menino grapiúna
Encontrou logo seu Graal
E tornou-se um escritor
De grandeza, de valor
E fama internacional.
Matilde Garcia Rosa
Com quem teve uma filha
Lila – menina mimosa
Que com seus 14 anos
Elevou-se a outros planos
Numa estrela bem briosa.
Foi coroado de brilhos
Encontra Zélia Gattai
E com ela tem dois filhos
O João Jorge e a Paloma
E assim Jorge retoma
Seu andar em outros trilhos.
Não foi entre arranha-céus
Deu-se à beira do Atlântico
Na cidade de Ilhéus
Litoral de inspiração
Para no futuro então
Receber os seus troféus.
Vivendo à beira do cais
Sob sóis, luas, estrelas
Observando sinais
De feirantes, pescadores,
Caravelas, sonhadores
Tornou-se um bardo capaz.
Lá se foi o buscador
Lapidar a sua alma
No oráculo Salvador:
A capital da Bahia
Lusitana na magia
Africana no amor.
Nas ladeiras de Gregório
O caminho para as letras
Abrindo o seu oratório
Para a vida literária
Rebelde, universitária:
Seu grande laboratório.
Então iniciaria
No mundo do jornalismo
No Diário da Bahia
Dando provas que assim
Nosso grande querubim
A todos encantaria.
Dos Rebeldes, Jorge Amado (28)
Foi um dos seus fundadores
Comprovando ser letrado
Assim nasce o escritor
O nosso maior condor
Um romancista aclamado.
Chamada “Meridiano”
Jorge publicou um número
Vinte e oito foi o ano
Com grande repercussão
Surpresa e admiração
De todo leitor baiano
Dá então prosseguimento:
Colabora com a revista
Intitulada “O Momento”
Nove números publicados
Que foram logo esgotados
Mostrando assim seu talento.
E prosseguiu no seu pleito.
Mesmo sendo um literato
Formou-se então em Direito
Concluindo lá no Rio
Com destaque e muito brio
Mas não ficou satisfeito.
Desistiu de advogar
Abraçou a literatura
E seguiu seu caminhar
Pois a vida literária
Era a causa necessária
Para ele então brilhar.
Uma parceria bela
Com Edson Carneiro e
Dias da Costa: a novela
Intitulada “Lenita”
Em capítulos escrita:
Abrindo a sua aquarela.
Seu romance inaugural
No ano de trinta e um:
“O País do Carnaval”
Sendo o ponto de partida
Da trajetória luzida
De cunho internacional.
No ano de trinta e três.
Em trinta e quatro, “Suor”
Foi o romance da vez.
Daí nosso romancista
Foi o primeiro da lista
Com bravura e polidez.
Suas obras consistentes
Tornam-se reconhecidas
Em todos os continentes
E Jorge feito um condor
Passa a ser o escritor
De romances reluzentes.
No ano de trinta e cinco
E “Mar Morto” em trinta e seis
O seu mais singelo brinco
Depois “Capitães da Areia”
Uma obra de mão cheia
De maestria e afinco.
A lista dos seus escritos
Então vou relacionar
Para não causar atritos
Aqueles mais adorados
Traduzidos e amados
Certamente os mais bonitos!
Camisola de Dormir”
Um romance curioso
Que muito me fez sorrir;
Sem falar de “Gabriela
(Formosa) Cravo e Canela”
Que o mundo pôde curtir.
Não esquecerei jamais
Também “Pastores da Noite”
“Seara Vermelha” – um ás!
“Terras do Sem Fim”; “Tieta
Do Agreste” – a violeta
Que são obras imortais.
Cansada de Guerra”, ou não?!
“A Morte e a Morte de Quincas
Berro D’Água”, meu irmão:
A esperteza do baiano
Um povo belo, profano
Afro e luso em ação!
Essa obra incomum:
Tem “Os velhos Marinheiros”
“O Compadre de Ogum”,
“Tenda dos Milagres”, sim
Parece não ter mais fim
Nessas águas de Oxum!
Do meu livro predileto:
O “São Jorge dos Ilhéus”
E um outro tão completo
Chamado “Tocaia Grande”.
Veja então como se expande
A relação que coleto!
Na sua pena versejar
Escrevendo bons poemas
Em “A Estrada do Mar”
Um livro mais que singelo
Em que Jorge, com anelo,
Pôde nos presentear.
Jorge esteve preocupado
E um infanto-juvenil
De nome “O Gato Malhado
E Andorinha Sinhá”
Com a força de Iemanjá
Por ele foi publicado.
Que ele fez com maestria:
“O ABC de Castro Alves”
Uma linda biografia,
Além da grande pujança
“Cavaleiro da Esperança”
Com luz, prosa e poesia.
Estão na vasta bagagem.
Lembro de “Navegação”
(aquela) de Cabotagem”;
E o “Menino Grapiúna”
Em que Jorge se afortuna
Por toda e qualquer paragem.
Escritos por Jorge Amado.
No teatro, bela peça
De nome “O Amor do Soldado”.
Além de correspondência
Com pessoas de influência
Desse universo letrado.
Aumenta seu cabedal
Fora eleito por São Paulo (1945)
Deputado Federal.
Sendo ali a sua vez
Para criar novas leis
Na cultura nacional.
Foi deveras pressionado.
Filiado ao PCB,
Do Brasil foi exilado
No Uruguai, França, Argentina
E em Praga – assim termina
O sofrimento do bardo.
Cujo patrono Alencar
Na famosa ABL
Seu merecido lugar
Com sucessão aferida
À sua musa querida:
Zélia Gattai – o seu par.
No Brasil e além-mar:
“Graça Aranha”; “Jabuti”
E mais dois que vou citar:
“O Nestlé”, “Moinho Santista”
E tantos outros na lista
Deste grande avatar.
Muitos prêmios de cartaz:
“Sofia”, “Moinho Itália”
“O prêmio “Lênin da Paz”
“Pablo Neruda”, “Camões”
E tantas outras moções
Deste baiano sagaz.
Do esloveno ao albanês
Do inglês ao espanhol
Do mongol ao holandês
Do árabe ao catalão
Do croata ao letão
Do guarani ao francês…
Pelo grande labutar
Em 10 universidades
Do Brasil e além Mar:
Itália, França, Bahia
Portugal, com alegria
Inda consigo lembrar!
Ganhou adaptações
No teatro, no cinema
Nos cordéis e em canções
Seriados e novelas
No colorido das telas
De muitas televisões.
Da obra deste baiano
É tarefa mais que árdua
Posso navegar no engano
Contudo não perco o prumo
Então vou fazer um resumo
Como um bom samaritano:
Um Jorge politizado
Buscando dar voz ao povo
Excluído e injustiçado
Prostitutas, marginais
Proprietários rurais,
Todo o proletariado.
As denúncias sociais
Tanto o povo das metrópoles
Como das zonas rurais
Coronéis, comerciantes
Marinheiros, traficantes
Burgueses e muito mais.
Aprendeu a transitar
Nos caminhos do erudito
E também do popular
Exaltando a Bahia
Dos costumes à magia
De forma peculiar.
Jorge Amado era de fé
Um fiel simpatizante
Do famoso candomblé
Sendo ali grande “Sinhô”
Com título de Obá Xangô
Sem nunca arredar o pé!
Fez o seu grande chamado
E no dia seis de agosto (2001)
Disse: “Pode vir, Amado,
O Mistério te conduz
Pois na Estação da Luz
Teu lugar foi reservado…“
Justificativa
Literatura de Cordel
É poesia popular
É historia contada em versos
Em estrofes a rimar
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar.
A capa é em xilogravura
Trabalho de artesão
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.
Os folhetos de cordel
Nas feiras eram vendidos
Pendurados num cordão
Falando do acontecido,
De amor, luta e mistério,
De fé e do desassistido.
A minha literatura
De cordel é reflexão
Sobre a questão social
E orienta o cidadão
A valorizar a cultura
E também a educação.
Mas trata de outros temas:
Da luta do bem contra o mal,
Da crença do nosso povo,
Do hilário, coisa e tal
E você acha nas bancas
Por apenas um real.
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra
Que luta pra que um dia
Acabe a fome e miséria
Haja paz e harmonia.
(Dideus Sales)
dideussales@bol.com.br
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