domingo, 22 de agosto de 2010

OLP - O lugar onde vivo






Do lado mais calado do tempo
podemos falar das mãos das mães,
tão frágeis, quando trazem nas costas
a febre dos filhos.
Podemos sentir o rosto perturbado
das crianças que nos mostram a boca
mordida pela fome.
Podemos querer de volta o fascínio
dos papagaios de papel e do tempo
em que não faltava ninguém
nas fotografias da família.


De O silêncio: lugar habitado, 2009




Navegação

Não avistarei a terra depois desta nua solidão.
Sem luz e sem imagem, o vazio
inventa-me e consome-me
como este sonho cruel que já não é meu.
Não lembrarei os meu olhos, a minha voz, o meu segredo.
Dobrarei os ventos para apagar a minha forma
e adormecerei meu corpo na doçura terrível do esquecimento.
Não avistarei a terra nem este mar lembrará que existe.
Nenhuma solidão lembra o seu regresso
se dela parte e ela é o seu único destino.


Marta López Vilar
In: La palabra esperada. Versão portuguesa de Marta López Vilar. Madrid: Hiperión, 2007

--

Só na memória do teu rosto, mãe
posso encontrar agora as paredes
da casa onde nasci.
Como se fosse possível voltar
àquele tempo em que a felicidade
residia nas tuas mãos
entretidas a encaracolar os meus cabelos.

Uma Casa Em Viagem

Quero ficar sempre como nos meus sonhos de criança. Os meus dias têm a fragrância dos perfumes celestiais quando sinto o calor regressar na Primavera. Quero permanecer frágil. Suspensa. Matizada no azul do Firmamento, como tinta indelével sobre estátua terracota onde corre a água mais pura.


Embrulhou meia dúzia de afetos adquiridos em segunda mão. Foi até à raiz da noite que não acaba em sono. Não deu presentes. Deu ausências.


FIRMAMENTOS DE PAPEL
A estrela de um silêncio que se expande
Nas horas de um corpo embalado em sonhos ausentes,
Cintilação de espelhos estilhaçados
Em verso de mágoa e lágrima derramada…
A estrela do infinito que nunca fui…

De mais alto que todos os esplendores,
Pingente de cristal embalado em leito de veludo negro,
Tem olhos de mais cores que os ecos da sedução
E é somente uma, sublime entre sublimes,
Mais uma estrela na minha constelação.

Mas ver-me-á, talvez, nos desertos da minha própria negrura,
Peregrina de uma fé que o silêncio consumiu,
Quando, no embalo do meu sonho, sou eu a estrela,
No sussurro enlevado de mais horas e mais séculos
Que todos os que me iludem na noite da imaginação.

A estrela…
A luz que faria resplandecer as sombras do meu corpo
No seu etéreo baile de cristal
E que me envolveria nas mais suaves memórias,
As melodias dos sonhos que mal acabaram de nascer.
A estrela do manto de seiscentos brilhantes
Que me envolveria no seu abraço imortal.

Mas estrela cega diante da infinita luz
Que fecha os olhos à minha promessa de redenção…


O valetão que engolia meninos e outras histórias de Pajé
Kelli Carolina Bassani

Já foram escritas muitas histórias da época em que os meninos engraxates eram engolidos pelo valetão da Rua Sete de Setembro. Mas nenhuma delas conta esta ou outras histórias de Pajé. Guardo-as dentro do peito, como boas lembranças da rua onde vivi e que teimam em se misturar com a história da cidade.

Nascemos juntos: eu, a rua e essas histórias. Somos uma coisa só, mas nós não estamos nos livros. Estamos na contramão, por isso me atrapalho com as palavras. Às vezes falta ar, outras o ar é demais, então o meu coração acelera, o nó na garganta avisa: o menino Pajé vai acordar!

Hoje, quem não conhece a Rua Sete de Setembro é porque não conhece minha cidade - Toledo. Apertada entre outras no extremo oeste paranaense, bem pertinho do Paraguai, surgiu de uma clareira no meio da mata.

Naquele tempo, uma clareira; hoje, Rua Sete de Setembro. Essa rua foi crescendo e acolhendo o progresso que tenta esconder e aprisionar as histórias de Pajé. Elas estão descansando embaixo do calçamento, dos asfaltos, dos prédios, das casas. Basta um sinal que elas voltam.

Cheiro de terra molhada - esse era o sinal. E, ainda hoje, sinto esse cheiro entrando no meu cérebro e mexendo com o meu coração. Naquele tempo bastava sentir o cheiro de terra molhada para que nós, os meninos engraxates, escondêssemos nossas engraxadeiras - caixa de madeira em que se guardava o material necessário para engraxar sapatos - no porão dos fundos da bodega do Pizetta e, como garotos matreiros, saíssemos de mansinho, sem despertar curiosidade. Corríamos lá embaixo, no começo da rua que embicava no meio da mata, pois o mistério ia começar!

A chuva caía e formava muita enxurrada que, com sua força, trazia a terra misturada. Parecia uma cascata de chocolate que despencava no valetão - buraco muito profundo provocado pelas enxurradas, erosão. A água fresquinha que caía do céu misturava com a terra quente e provocava o mistério. Nós éramos puxados para dentro daquele enorme buraco por uma força estranha sem dó. Mesmo os que não queriam não conseguiam resistir, porque a magia era muito forte e, em poucos segundos, estávamos lá dentro, na garganta do valetão, onde brincávamos durante horas. Nessas horas o trabalho era esquecido.

Quando eu era menino, trabalhava muito. Todos os dias de manhã ia à escola e, ao retornar, mal acabava de almoçar, pegava a engraxadeira, colocava nas costas para a rua, quer dizer, para o trabalho. A engraxadeira era muito grande e pesada para meu tamanho - eu era apenas um garoto! Mas era a única forma de ajudar minha mãe no sustento da família.

Sentia como se estivesse carregando o mundo sozinho.

Hoje sou adulto e sei que aquela magia era fruto de nossa fantástica imaginação. Como qualquer outro menino, o engraxate também tinha direito de brincar. Uma das poucas vezes em que podíamos fazer isso era quando chovia. Mesmo que depois nos custasse castigos e surras.

Atualmente, as brincadeiras, comparadas com as de meu tempo, são muito diferentes. Hoje, os heróis são Superman, Batman, Homem-Aranha. Antes tínhamos heróis indígenas, com suas histórias cheias de mistérios das florestas.

Naquele tempo, quando chovia, o valetão da Rua Sete de Setembro era nosso mundo fantástico. Além das divertidas brincadeiras no lamaçal que escorria da rua, fazíamos cabanas no paredão da erosão, guerrilhas com bodoque, usando sementes de árvores como cinamomo e mamona.

Quando não chovia, sobrava tempo para brincar só aos domingos. Então, eu - Pajé - e minha turma nos reuníamos na mata, que se misturava com o terreiro das casas.

Nele, construíamos cabanas, arcos, flechas, tacapes. Pintávamos o corpo todo com barro e frutinhas da mata. Assim, sentindo-nos como heróis, brincávamos de índios guerreiros, até o sol se esconder.

Nossa vida se enchia dos poderes que vinham da mata e seguia solta, como passarinho. O fim da história? Não sei não, porque eu ainda vivo. E enquanto eu viver as lembranças nunca vão terminar.

António Quadros


No meu país havia marinheiros
com braços de tempestade.
Havia um cais e um sonho
ateado em cada mastro.
E havia no vento o chamamento do mar.
Havia no meu país o voo antigo dos pássaros
para adivinhar a sina dos homens.
O mistério do sangue e do parto
e o uivo das fêmeas em noites com lua
havia também no meu país.
No meu país havia a terra e a memória
e os cantares de amigo
e a pressentida eternidade das palavras.

De O silêncio: lugar habitado, 2009


Aluna BRUNA VILLA LOPES DA SILVA

Lembranças de borboleta

Voou, voou,
Surgiu, surgiu,
A borboleta branca chegou
Flutuando no céu de anil.
Ela passou por goiabeiras
E admirou as paneleiras;
Passou na Praia do Canto,
Um bairro cheio de encanto.
Bairros lindos, bairros pobres,
Bairros limpos, bairros nobres,
Cidade igual, mas diferente,
Calor humano e envolvente.
Ela pousou,
Alguém a observava.
Era uma pedra.
Uma pedra especial:
Era a Pedra dos Olhos,
Uma pedra sem igual.
Mais uma vez levantou vôo,
Pousou em uma areia muito gostosa.
A água molhou suas patas:
Água fresquinha, maravilhosa.
Olhares enigmáticos
Olhavam e observavam,
Olhares curiosos
Riam e seguravam.
A praia de Camburi:
Lá os raios de sol brilhavam.
Levantou vôo,
Voou e pousou.
Pousou em um campo cheio de flores,
Lugar cheio de animais,
Jardim cheio de amores.
Era o Parque Pedra da Cebola,
Mas a pedra não é comestível.
É só um nome diferente que deram
Para esse sonho incrível.
Coentro, sal,
Peixe e colorau.
Foi isso que a borboleta encontrou.
Uma comida que é um estouro:
A moqueca capixaba,
Um prato que vale ouro!
Voou, voou,
Sumiu, sumiu.
Mas na lembrança levou:
Vitória, a cidade mais linda que já viu!


Publicado em: 04/12/2008


Euler

Na noite dorme a cidade,
No alto chia o vento,
Acordadas, só ficam as estrelas.
O frio para o pobre é o lamento.

Manhã vem chegando,
Roncos de trovão
A mãe prepara a marmita,

Se cai chuva, não tem trabalho,
O chão fica molhado
Desfaz a marmita
É hora de ajeitar o telhado.

Se não fosse pelo dinheiro
A alegria seria completa;
A família reunida,
Só com o pão se faz a festa

Quando vem a estiagem
Estende-se o agasalho;
É hora de secar a roupa

Durante a colheita
Cantos de alegria,
Devotos ensaiam o grito
Para o filho de Maria

E quando chega o Natal,
A enxada fica esquecida;
Na mão calejada, do meu avô
Vai uma sanfona aquecida.

A bandeira vai na frente,
O embaixador canta o hino,
Visita de casa em casa.

Não sei se é diferente,
A vida quem mora lá em cima
Sei que sou muito feliz.


Aluno CARLOS VICTOR DANTAS ARAÚJO


As Marias do meu lugar

I
Minha terra é pequenina
Fica aqui no Ceará
No Vale do Jaguaribe
Alto Santo aqui está
No Comando das Marias
Que progride esse lugar

II
Tem Maria sertaneja
Valente feito um trovão
Daquela que desde cedo
Faz o cultivo do chão
E a Maria tratorista
Que ajuda na plantação

III
Tem Maria lá na câmara
Que é a vereadora
Tem Maria que cedinho
Limpa a rua com a vassoura
Tem aquela que ensina
A Maria professora

IV
A Maria forrozeira
Rodeia feito pião
Tem a Maria louceira
Transforma o barro com a mão
E a Maria morena
Com corpo de violão

V
Maria que no mercado
Vende o quente e o frio
E a Maria lavadeira
Faz espuma lá no rio
E a Maria açougueira
Com a faca faz desafio

VI
Maria no hospital
A Maria enfermeira
Lá na fábrica de tecidos
A Maria costureira
E aqui na minha casa
A Maria verdadeira

VII
Lá no altar da igreja
Maria diz o amém
Implora ao padroeiro
Para todos viver bem
A mãe do Menino Deus
Que é Maria também

VIII
Ah! Se em todo lugar tivesse
Assim tantas alegrias
E que fosse como meu
Nessa paz do dia-a-dia
Que faz o calor do sol
Dar força a essas Marias
(04/12/2008)

criações dos alunos: (T51 - JC )

A beleza da minha terra

Minha cidade é parecida
Com uma flor colorida
Eu amo minha cidade até a eternidade

Minha cidade é bela, todos querem conhecer
Já pensou quando eu crescer, que beleza que vai ser?
Minha cidade tem o centro
Que paarece um evento

Vamos cuidar de minha cidade
Até a eternidade
Nossa cidade tem beleza
Vamos cuidar dela como realeza

Adoramos minha cidade
Porque ela tem vivacidade
Cuidamos de nossa cidade
Com amor e felicidade.
Adriele


Sapucaia é a cidade da alegria
Que tem muita folia
No zoológico a gente ri
Porque tem muita coisa tri.

Sapucaia é uma cidade maioral
Pois tem muita gente legal
Sapucaia tem felicidade
E muita amaizade

Cidadezinha legal
Ela é muito especial
Tem taanta acoisa especial
Que ninguém passa mal

Tem muita faantasia
Pois é a acidade da aalegria
Minha cidade é alegre
Igual a Porto Alegre.
Bruno

Cidadezinha

Cidadezinha bem alegre
Igual a Porto alegre
Capital do Rio Grande do Sul
Meu Rio Grande do Sul azul

Cidadezinha do meu coração
Até choro de emoção
Sapucaia tem uma universidade
Só uma nessa cidade

Sapucaia do Sul
Minha terra do céu azul
Cidadezinha boa de morar
Me dá até vontade de chorar

Cidadezinha do meu coração
Minha terra de emoção
Cidadezinha muito tri
Até choro de ri.
Filipe G.



Minha cidade
Sapucaia do Sul é uma bela cidade
Muitas pessoas vem de longe conhecê-la
Porque ela é florida
Sapucaia é uma cidade colorida

Sapucaia é minha amiguinha
Ela é linda, parece uma bromélia
Bromélia, uma flor que embeleza minha terra
Sapucaia com qualidades boas e ruins

Sapucaia é cheia de amizades
Ela é tão bonita
Até parece que foi escrita
Sapucaia parece uma broméli de tão bela

Sapucaia mesmo com as qualidades ruins
É feita também de coisas belas
la não é somente uma terra
E tenho orgulho de dizer que nasci nessa terra!
Nicoly

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