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Sentimento do Mundo – questões e gabarito
À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua
geral).
Quando houve revolução, os soldados se espalharam no
morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afi nado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro.
livro a que pertence:
do texto — mais as menções ao Leblon e ao Méier, a Copacabana, a São Cristóvão e ao Mangue, —
presentes em outros poemas —, sendo todas, ao mesmo tempo, espaciais e de classe, constituem uma
espécie de discreta topografia social do Rio de Janeiro.
II. Nesse poema, assim como ocorre em outros textos do livro, a atenção à vida presente abre-se
também para a dimensão do passado, seja ele dado no registro da história ou da memória.
III. A menção ao "cavaquinho bem afinado", ao cabo do poema, revela ter sido nesse livro que
o poeta finalmente assumiu as canções da música popular brasileira como o modelo definitivo de
sua lírica, superando, assim, seu antigo vínculo com a poesia de matriz culta ou erudita.
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
o poema de Drummond derivam de um conflito de:
a) caráter racial, assim como sucede em A cidade e as serras.
b) grupos linguísticos rivais, de modo semelhante ao que ocorre em Viagens na minha terra.
c) fundo religioso e doutrinário, como o que agita o enredo de Til.
d) classes sociais, tal como ocorre em Capitães da areia.
e) interesses entre agregados e proprietários, como o que tensiona as Memórias póstumas de Brás
Cubas.
mundo", a percepção da "insuficiência do eu" leva o poeta a querer aproximar-se dos outros e participar dos
problemas humanos em geral. Assinale a alternativa em que os versos, transcritos dessa obra, explicitam tal
desejo de participação.
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
("Elegia 1938")
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas
livrarias:
preciso de todos.
("Mundo grande")
um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um
óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem.
("Inocentes do Leblon")
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.
("Noturno à janela do apartamento")
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,a vida presente.
EXCETO:
realidade de seu próprio tempo.
b) O poeta renuncia ao isolamento voluntário e reafirma sua solidariedade aos companheiros, dos
quais não pretende mais se afastar.
c) Ao voltar-se para a vida presente o poeta demonstra uma preocupação maior com o seu
momento histórico.
d) O poeta busca a convivência com os outros homens à sua volta, não pretendendo, pois,
entregar-se aos devaneios e à solidão.
e) O autor de "Mãos dadas" quer unir-se a seus semelhantes para libertar-se do passado, do
presente, e do futuro de um mundo caduco que o sufoca.
INCORRETO afirmar que, nessa obra, o poeta:
a) exclui, ao voltar-se para os problemas coletivos, sua herança provinciana.
b) integra à experiência do presente as dimensões temporais do passado e do futuro.
c) opõe-se, por um sentimento de justiça, à divisão da sociedade em classes.
d) problematiza o individualismo característico de sua própria poesia.
de Carlos Drummond de Andrade, que homenageia o também poeta Manuel Bandeira.
(...) Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias
entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil
queixas operárias;
essa insistente mas discreta mensagem
que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes;
e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces
sem uma queixa no rosto entretanto experiente,
mão firme estendida para o aperto fraterno
— o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens —, o poeta ainda capaz de
amar Esmeralda embora a alma anoiteça,
o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte
— mas haverá lugar para a poesia?
Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever,
o poeta Maiakovski suicidou-se,
o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal...
Em meio a palavras melancólicas,
ouve-se o surdo rumor de combates longínquos
(cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós).
E enquanto homens suspiram, combatem ou
simplesmente ganham dinheiro,
ninguém percebe que o poeta faz cinquenta anos,
que o poeta permaneceu o mesmo, embora alguma
coisa de extraordinário se houvesse passado,
alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos
traíram nem as mãos apalparam,
susto, emoção, enternecimento,
desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice
elástica dos abraços,
e uma confiança maior no poeta e um pedido lancinante
para que não nos deixe sozinhos nesta cidade
em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores
acontecimentos. (...)
sentimento de pessimismo expresso no poema e no livro Sentimento do mundo. Explique por quê.
Os conselheiros angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
"bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra-li-vre sus-pi-rar",
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus
de Copacabana, com rádio e telefone automático.
poema de Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis.
tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua?
Explique resumidamente.
Gabarito dos exercícios sobre o livro de Carlos Drummond
entre os anos de 1934 e 1940, período que coincide com a mudança do autor para o Rio de
Janeiro. A menção direta (com a citação literal de bairros considerados ricos, como
Copacabana e Leblon, e outros mais simples, como o Méier) ou indireta, nas referências ao
mar e à metrópole, muito recorrente nos textos, pode assim ser justificada. Com relação
ao poema "Morro da Babilônia", o registro do presente é significativo, uma vez que o eu
lírico aborda a situação no morro na época da enunciação do texto. Isso se percebe pelo
uso dos verbos no presente. O passado, por sua vez, também é mencionado, tanto quando
se alude à imigração dos negros de Luanda e à revolução que ocorreu no morro (registro da
história) como quando o assunto é o encantamento dos soldados mortos (registro da memória).
primeira de sua fase social. O poema "Morro da Babilônia", especificamente, faz
referências a tensões entre classes sociais em versos como "À noite, no morro descem
vozes que criam o terror" ou "e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral.
" Esse tipo de aspecto também ocorre em Capitães da areia, de Jorge Amado.
eu lírico frente ao tenso contexto histórico: o regime de exceção política que levou ao
Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, e o crescimento do nazifascismo, que
culminou com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. No poema, especificamente, o
eu lírico menciona a existência da "guerra e do ódio entre os homens" em referência a esse
contexto, o que seria indício de um tempo pouco propício para a realização da poesia.
Um tempo em que os "homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro",
sem dedicar qualquer tempo ao lirismo e à relação humana.
condição de poeta. Em contraponto com as figuras de Rimbaud, que "fartou-se de
escrever", de Maiakovski, que "suicidou-se" e de Schmidt, que se tornou funcionário
público, Bandeira continuou escrevendo e capaz de amar, apesar da noção de que havia
pouco lugar para a poesia em um tempo de opressão e morte. Nesse sentido, a postura
de Manuel Bandeira evocada por Drummond pode ser considerada uma demonstração de
otimismo que se contrapõe ao sentimento pessimista predominante na obra.
uma elite alienada, uma vez que esquecida de acontecimentos sociais importantes como a
guerra do Paraguai e a escravidão; e exclusivamente interessada em aproveitar a vida
de forma hedonista, no desfrute de seus desejos sexuais.
A personagem Brás Cubas, da obra de Machado de Assis, tem um comportamento
semelhante ao desses conselheiros, na medida em que possuí uma visão pessoal das questões
sociais de seu tempo, além de permanecer conectado com seus instintos, desde seus
encontros juvenis com a interesseira Marcela até o longo caso amoroso que mantém com a
adúltera Virgília, na casa do bairro da Gamboa, um verdadeiro "ninho de amor", como
citado no poema.
marcado pela alienação e busca desenfreada do prazer, desde a época imperial até a década
de 30 do século XX (época do poeta). As duas épocas se aproximam quando se faz
referência a "arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático",
elementos característicos do século XX, no poema que aborda, desde o título, o século XIX.
contém o poema “ O voo sobre as igrejas”:
Onde repousa, pó sem esperança, pó sem lembrança, o Aleijadinho.
Vamos subindo em procissão a lenta ladeira.
Padres e anjos, santos e bispos nos acompanham
e tornam mais rica, tornam mais grave a romaria de assombração.
tudo é tão simples,
tudo tão nu,
as cores e cheiros do presente são tão fortes e tão urgentes
que nem se percebem catingas e rouges, boduns e ouros do século 18.
Nesta subida só serafins, só querubins fogem conosco,
de róseas faces, de nádegas róseas e rechonchudas,
empunham coroas, entoam cantos, riscam ornatos no azul autêntico.
lavou na pedra-sabão
todos os nossos pecados,
as nossas luxúrias todas,
e esse tropel de desejos,
essa ânsia de ir para o céu
e de pecar mais na terra;
este mulato de gênio
subiu nas asas da fama,
teve dinheiro, mulher,
escravo, comida farta,
teve também escorbuto
e morreu sem consolação.
na torre mais alta o sino que tange, o som que se perde,
devotas de luto que batem joelhos, o sacristão que limpa os altares,
os mortos que pensam, sós, em silêncio, nas catacumbas e sacristias,
São Jorge com seu ginete,
o deus coberto de chagas, a virgem cortada de espadas,
e os passos da paixão, que jazem inertes na solidão.
não tinha dedo, não tinha mão,
raiva e cinzel, lá isso tinha,
era uma vez um Aleijadinho,
era uma vez muitas igrejas
com muitos paraísos e muitos infernos,
era uma vez São João, Ouro Preto,
Mariana, Sabará, Congonhas, era uma vez muitas cidades
e o Aleijadinho era uma vez.
Cecília Meireles, em seu célebre Romanceiro da Inconfidência,
também homenageou o artista mineiro:
A vastidão desses campos.
A alta muralha das serras.
As lavras inchadas de ouro.
Os diamantes entre as pedras.
Negros, índios e mulatos.
Almocrafes e gamelas.
Os rios todos virados.
Toda revirada, a terra.
Capitães, governadores,
padres, intendentes, poetas.
Carros, liteiras douradas,
cavalos de crina aberta
A água a transbordar das fontes.
Altares cheios de velas.
Cavalhadas, Luminárias.
Sinos. Procissões. Promessas.
Anjos e santos nascendo
em mãos de gangrena e lepra.
Finas músicas broslando
as alfaias das capelas.
Todos os sonhos barrocos
deslizando pelas pedras.
Pátios de seixos. Escadas.
Boticas. Pontes. Conversas.
Gente que chega e que passa.
E as ideias.
Murilo Mendes, outro poeta do Modernismo, também rendeu-lhe homenagem:
Ao Aleijadinho
Pálida a lua sob o pálio avança
Das estrelas de uma perdida infância.
Fatigados caminhos refazemos
Da outrora máquina da mineração.
É nossa própria forma, o frio molde
Que maduros tentamos atingir,
Volvendo à laje, à pedra de olhos facetados,
Sem crispação, matéria já domada.
O exemplo recebendo que ofereces
Pelo martírio teu enfim transposto,
Severo, machucado e rude Aleijadinho
Que te encerras na tenda com tua Bíblia,
Suplicando ao Senhor — infinito e esculpido —
Que sobre ti descanse os seus divinos pés.
Sugestão para o professor:
1. Se possível, convide o professor de Artes e façam uma atividade interdisciplinar.
-
Peça aos alunos para pesquisarem imagens das obras de Aleijadinho. Com professor da outra disciplina, promova um debate sobre a correspondência entre o período em que ocorrem o Barroco literário e o Barroco nas Artes Plásticas: as datas coincidem? Há aspectos comuns?
- Se houver alguma igreja do período Barroco em sua cidade, combine com o professor de Artes uma visita guiada ao espaço. Ela se assemelha em algum aspecto às igrejas barrocas que os alunos viram nas imagens encontradas em sites e livros? Por que há essa diferença?
2. Na aula de Língua Portuguesa, peça aos alunos para lerem os textos modernistas. Por que era importante para o movimento do século 20 exaltar a cultura nacional? Como os autores fazem essa abordagem?
também homenageou o artista mineiro:
A alta muralha das serras.
As lavras inchadas de ouro.
Os diamantes entre as pedras.
Negros, índios e mulatos.
Almocrafes e gamelas.
Os rios todos virados.
Toda revirada, a terra.
Capitães, governadores,
padres, intendentes, poetas.
Carros, liteiras douradas,
cavalos de crina aberta
A água a transbordar das fontes.
Altares cheios de velas.
Cavalhadas, Luminárias.
Sinos. Procissões. Promessas.
Anjos e santos nascendo
em mãos de gangrena e lepra.
Finas músicas broslando
as alfaias das capelas.
Todos os sonhos barrocos
deslizando pelas pedras.
Pátios de seixos. Escadas.
Boticas. Pontes. Conversas.
Gente que chega e que passa.
E as ideias.
Das estrelas de uma perdida infância.
Fatigados caminhos refazemos
Da outrora máquina da mineração.
Que maduros tentamos atingir,
Volvendo à laje, à pedra de olhos facetados,
Sem crispação, matéria já domada.
Pelo martírio teu enfim transposto,
Severo, machucado e rude Aleijadinho
Suplicando ao Senhor — infinito e esculpido —
Que sobre ti descanse os seus divinos pés.
- Peça aos alunos para pesquisarem imagens das obras de Aleijadinho. Com professor da outra disciplina, promova um debate sobre a correspondência entre o período em que ocorrem o Barroco literário e o Barroco nas Artes Plásticas: as datas coincidem? Há aspectos comuns?
- Se houver alguma igreja do período Barroco em sua cidade, combine com o professor de Artes uma visita guiada ao espaço. Ela se assemelha em algum aspecto às igrejas barrocas que os alunos viram nas imagens encontradas em sites e livros? Por que há essa diferença?
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