terça-feira, 29 de março de 2011

Cisne negro: comentários



O conflito entre personalidades e mundos é o foco principal do filme "Cisne Negro" (2011) do diretor Darren Aronofsky, no qual, Nina, uma bailarina de 28 anos, perturbada e confusa sobre sua verdadeira personalidade se depara com o desafio de interpretar dois personagens: o cisne branco e o cisne negro do espetáculo de dança " O lago dos Cisnes".


Nina se encaixa perfeitamente no papel do Cisne Branco e seu conflito começa na ameaça de ter seu papel substituído por não conhecer seu outro lado: a personificação do Cisne Negro. O editorial retrata a busca pela perfeição que é regada por sofrimento e conflitos internos da personagem principal, Nina, até chegar ao encontro do equilíbrio entre suas duas faces.


Dois em um
Martha Medeiros

Muito se falou sobre Cisne Negro, o filme que não venceu o Oscar mas que foi, de longe, o mais perturbador e perturbação é vital para o pensamento. Houve quem tenha prestado atenção na questão da esquizofrenia, outros ficaram atraídos pela angustiante busca da perfeição artística e outros viram ali apenas mais um filme de terror. Há outro aspecto ainda, que é o que mais me seduziu: a dificuldade de conviver com a dualidade que existe em nós.

Há na sociedade uma tendência de encaixotar as pessoas e selar uma etiqueta para defini-las. Se você é uma pessoa de cabeça aberta, não lhe perdoarão ser contra o aborto. Se é uma natureba, jamais deverá ser vista tomando uma coca-cola. Se é respeitada nos meios intelectuais como uma grande pensadora, nem se cogita ouvir de sua boca uma resposta parecida com “não sei”. Tem que saber. É obrigatório confirmar o que o seu rótulo induz a pensarem sobre você.

Ainda que tenhamos, todos, um estado de espírito predominante e um estilo de vida que dá pistas sobre o que nos é caro, a verdade é que nada nos define integralmente. Um homem pode ser conservador em suas aplicações financeiras e ao mesmo tempo um aventureiro que se arrisca em esportes radicais.

Uma mulher pode tomar seus pileques de vez em quando e ser extremamente responsável na educação dos filhos. Para a comissão julgadora, isso sugere leviandade: ou você é uma coisa, ou outra. Senão, como garantir a estabilidade que nos estrutura?

Podemos ser uma coisa, e outra, e mais outra, inclusive coisas que se contradizem (te amo, mas preciso ficar sozinho) e não há nada de frívolo nisso. Ao contrário, as pessoas verdadeiramente maduras são as que não se sentem inseguras com suas contradições e conseguem extrair delas uma sabedoria que lhes sustenta. A comissão julgadora fica meio perdida. Que nota essa criatura dual merece? Sugiro: zero em harmonia, 10 em evolução.

No filme, a dualidade se manifesta através do lado claro e escuro da bailarina que precisa interpretar dois personagens antagônicos num mesmo ballet. Ser virginal e erótica ao mesmo tempo lhe esgota e amedronta: como sobreviver a tamanha contradição?

Há muitas possibilidades de desfrutar de antagonismos sem que percamos nossa integridade, basta que a gente tenha um mínimo de bom senso para saber até onde o anjo e o demônio em nós pode se manifestar sem causar danos aos demais. Há espaço para ambos existirem, sem comprometer a nossa singularidade – ao contrário, é na ambivalência que nosso “eu” se firma e encontra a plenitude.

Se isso tudo não passar de conversa pra boi dormir, ao menos serve como argumento para justificar as inquietantes dúvidas que nunca nos abandonam.

3 comentários:

D. disse...

gostei muito do seu bloog
sou nova nesse ramo =)
qualquer coisa me segue ae:
http://itsmysanity.blogspot.com/
muito linds mesmo *--*

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Passeando pelo blog...gostei muito! Abraço

Um brasileiro disse...

oi. estive por aqui. tudo bem. gostei. muito legal. apareça por lá. aproveitando votem em mim nos tops. abraços.

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