A.L.Antunes
Aquilo que condenas
Não condenas.
Tu és o paradoxo
De ti próprio,
A luta da tua luta,
A compreensão do incompreensível.
Dizes o que não pensas.
E não pensas o que pensas.
Amas como dizes não amar...
Sentes como dizes não sentir...
Não és poeta mas és fingidor.
Só não sabes que és ambas
As coisas
E que em ti nascem e morrem
Infinitos;
que em ti se consagram
Mundos e vontades,
Que és nascente de rio
E foz ao mesmo tempo
Só não sabes que sabes
(ou saberás que sabes?)
João Mattos e Silva
EXISTE A SUA VERDADE, A MINHA VERDADE, A VERDADE MAL CONTADA, A VERDADE BEM CONTATDA, A VERDADE VERDADEIRA, A VERDADE MACHUCADA, QUE SUAVIZA, QUE ACOLHE, QUE AFASTA, PRA QUE MENTIR?
Tinha de ser, eu, não podia mais.
(Marta Medeiros)
Por tudo
F Espanca
Deixa-me desistir de ti
Como num encontro repetido entre penas de mil eras
E traçado em véus de fumos mutilados,
Para esquecer que te dei a alma de todos os meus sonhos
E a força de toda a vontade
Na concretização de uma visão que mão me pertencia.
Será o silêncio a minha promessa,
O vazio como futuro
De quem deixou as asas rasgadas no chão,
E apenas a noite alcançará a minha voz amordaçada
Nos primórdios do poema.
Não sou ninguém…
Nada mais que o pálido reflexo de um espelho estilhaçado,
Um grito no amanhecer
E as lanças dos meus dedos estendem o sangue da derrota
Que estrangula o meu olhar.
Deixa-me, pois, morder as cinzas que ensombram os meus lábios
E morrer dentro da cruz,
Como um corvo em voo de hecatombe
Rasgando os céus da última alvorada,
Um sonho aberto à lâmina dos deserdados,
Um cântico na morte…
Para que vejas a renúncia que floresce nos meus olhos
E me deixes desistir
De mim.
" Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura." Carlos Drummond Andrade
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