domingo, 2 de janeiro de 2011

verdade

"Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas."
A.L.Antunes

















Aquilo que condenas
Não condenas.

Tu és o paradoxo
De ti próprio,
A luta da tua luta,
A compreensão do incompreensível.

Dizes o que não pensas.
E não pensas o que pensas.

Amas como dizes não amar...
Sentes como dizes não sentir...

Não és poeta mas és fingidor.
Só não sabes que és ambas
As coisas
E que em ti nascem e morrem
Infinitos;
que em ti se consagram
Mundos e vontades,
Que és nascente de rio
E foz ao mesmo tempo
Só não sabes que sabes
(ou saberás que sabes?)

João Mattos e Silva



EXISTE A SUA VERDADE, A MINHA VERDADE, A VERDADE MAL CONTADA, A VERDADE BEM CONTATDA, A VERDADE VERDADEIRA, A VERDADE MACHUCADA, QUE SUAVIZA, QUE ACOLHE, QUE AFASTA, PRA QUE MENTIR?


A mulher só ama quando admira;
para amar um homem precisa se sentir inferior a ele.
[ Júlio Dantas ]




Tinha de ser, eu, não podia mais.
Continuar seria uma loucura, uma vergonha ou uma estupidez.
Cansei-me de ser boa, de ser amiga, e esta foi, afinal, a derradeira vez.
A derradeira, sim, que perdoei o mal que construí pelas minhas próprias mãos.
Ouvindo em cada passo num insulto ou numa gentileza disfarçada em cínica e venal contradição.
Satisfazer caprichos e apetites, a troco de uma reles ilusão.
Ser parvo, não ouvir, não compreender, sofrer, chorar, fingir não dar por nada e regressar ainda mais destruída e desprezivel.
Só quando a noite dá lugar à madrugada e a gente raciocina mas não vê... numa palavra: Viver assim, por quê?





"Quem você pensa que é?"
perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou
forte, / fraca, / generosa, / egoísta, / angustiada, / perigosa, / infantil, / astuta, / aflita, / serena, / indecorosa, / inconstante, / persistente, / sensata e corajosa,
como é toda mulher, / poderia ter respondido, / mas não lhe dei essa colher.
(Marta Medeiros)



Por tudo

Por tudo o que me deste / inquietação cuidado / um pouco de ternura / é certo mas tão pouca / Noites de insónia / Pelas ruas como louca / Obrigada, obrigada / Por aquela tão doce / e tão breve ilusão / Embora nunca mais / Depois de que a vi desfeita / Eu volte a ser quem fui / Sem ironia aceita / A minha gratidão / Que bem que me faz agora / o mal que me fizeste / Mais forte e mais serena / E livre e descuidada / Sem ironia amor obrigada / Obrigada por tudo o que me deste / Por aquela tão doce / e tão breve ilusão / Embora nunca mais / Depois de que a vi desfeita / Eu volte a ser quem fui / Sem ironia aceita / A minha gratidão
F Espanca


Deixa-me desistir de ti
Como num encontro repetido entre penas de mil eras
E traçado em véus de fumos mutilados,
Para esquecer que te dei a alma de todos os meus sonhos
E a força de toda a vontade
Na concretização de uma visão que mão me pertencia.

Será o silêncio a minha promessa,
O vazio como futuro
De quem deixou as asas rasgadas no chão,
E apenas a noite alcançará a minha voz amordaçada
Nos primórdios do poema.

Não sou ninguém…
Nada mais que o pálido reflexo de um espelho estilhaçado,
Um grito no amanhecer
E as lanças dos meus dedos estendem o sangue da derrota
Que estrangula o meu olhar.

Deixa-me, pois, morder as cinzas que ensombram os meus lábios
E morrer dentro da cruz,
Como um corvo em voo de hecatombe
Rasgando os céus da última alvorada,
Um sonho aberto à lâmina dos deserdados,
Um cântico na morte…

Para que vejas a renúncia que floresce nos meus olhos
E me deixes desistir
De mim.



" Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura." Carlos Drummond Andrade

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