sábado, 15 de novembro de 2008

Consciência Brasileira…





















Dia 20 de Novembro - Zumbi dos Palmares, Ganga-Zumba, Francisco…
Zumbi dos Palmares


Antes um pouco de História…
O Quilombo dos Palmares (localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas) era uma comunidade auto-sustentável, um reino (ou república na visão de alguns) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas brasileiras. Ele ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e situava-se onde era o interior da Bahia, hoje estado de Alagoas. Naquele momento sua população alcançava por volta de trinta mil pessoas.

Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado ‘Francisco’, Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos.

Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi rejeitou a proposta do governador e desafiou a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo líder do quilombo de Palmares.

Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antonio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.

Em 14 de março de 1696 o governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro escreveu ao Rei: “Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares.”

Zumbi é hoje, para determinados segmentos da população brasileira, um símbolo de resistência. Em 1995, a data de sua morte foi adotada como o dia da Consciência Negra. É também um dos nomes mais importantes da Capoeira.
Hoje é feriado, dia da “consciência negra”.
Um dia de reflexão… temos o dia do índio também(19 de abril). O Brasil é o maior país mestiço e cristão do mundo e tem a maior diferença de renda per capita do mundo também…
Hoje, nesse feriado estou de folga (sou caucasiano), meu porteiro (é negro) está trabalhando… Até quando vamos ficar só na reflexão? Não concordo com cotas, nem esmolas. Prefiro acreditar em Democracia.
O Brasil é um país Único e que precisa constantemente refletir e agir com DEMOCRACIA!!!
Salve Zumbi, salves os negros, salve os brasileiros!




Celebridades negras:
Episódio Machado de Assis (1839-1908)


MACHADO DE ASSIS

Cena 1

Foto do enterro de Machado de Assis. Os medalhões das letras brasileiras carregam o caixão pela escadaria da igreja. À esquerda, numa pilastra, MACHADO DE ASSIS assiste à tudo agachado. Ele levanta-se.


Sou eu dentro do caixão. Eu mesmo. Estou ali e estou aqui. Por favor, não se confundam. Eu fui o primeiro a permitir que um personagem morto escrevesse um romance. Portanto, nada mais natural que eu, um defunto autor, conte minha história. Tal qual Brás Cubas, permito-me inverter a ordem dos acontecimentos e começar pelo fim: meu enterro, em 1908.

Cena 2

Ao contrário de muitos artistas geniais, fui amplamente reconhecido em vida. Vocês não podem imaginar quanto orgulho me causou ver uma multidão muito maior do que os minguados 11 amigos do pobre Brás oferecer-me aos vermes.

Quando morri, era o mais conceituado escritor brasileiro. Permitam-me a falta de modéstia, mas fui fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.

Eu mesmo, o órfão de um lavadeira branca, criado por uma madrasta negra, que descobriu-se epilético. Tem um outro detalhe: era gago. Mas, como sou eu o narrador dessa história, isso não se percebe, como vocês já devem ter notado.

Mas também fui um dedicado funcionário público, que começou sua labuta pela Imprensa Oficial. Escrever é um enorme prazer, só comparável a um salário que pague as contas no fim do mês.

Não sei se vocês perceberam, mas sou, acima de tudo, irônico. Não é nada fácil reconhecer tal qualidade. Tão difícil quanto saber se Capitu traiu Dom Casmurro.


Só os que não reconhecem a ironia podem ser imunes ao drama racial que descrevi no conto “Pai contra mãe”, ou ao deboche que permeia minha primeira crônica após a abolição. Só esses pobres de espírito podem dizer que sou um preto de alma branca. Sou Joaquim Maria Machado de Assis. Sou um cidadão negro brasileiro.


Cena 3

PAULO LINS

“O contador de histórias foi inventado pelo povo”, disse Machado de Assis. Sou PAULO LINS. Sou um cidadão negro brasileiro.

Episódio Mário de Andrade (1893-1945)



Cena 1

Começo logo dizendo: sou um herói sem nenhum caráter. O caráter de que falo não tem nada a ver com questões morais, não. Tem a ver com identidade. Assim como um rapaz de 20 anos quer descobrir quem ele realmente é, o brasileiro ainda busca sua identidade nacional. E é ótimo não ter nenhum caráter. Significa que podemos incorporar o que mais nos apetecer de tudo o que nos cair nas mãos. Ou seja, sou um herói antropofágico.


Cena 2

Nasci em 1893. Sou natural da Paulicéia Desvairada, na qual a cidade de São Paulo havia se transformado em 1922. Foi nesse ano que organizamos a Semana de Arte Moderna, o maior evento da história artística brasileira até então.


Acho justo dizer que eu fui o teórico do Modernismo. Formatei em conceitos o sentimento de um grupo de jovens que ansiava por uma arte que não fosse uma imitação, mas uma massa feita de todos os ingredientes disponíveis e que, assim, pudesse ser genuinamente brasileira.


Como pouco adianta a teoria sem a prática, arregacei as mangas e me pus a trabalhar. É meu um dos romances mais comentados da literatura brasileira no século XX, “ Macunaíma”. Isso sem falar nos ensaios sobre o folclore e o cancioneiro popular brasileiros.

Também tive uma destacada atuação política no Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, com a disseminação de bibliotecas públicas e a elaboração do projeto de criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que hoje é conhecido como Iphan.


Levei a antropofagia tão a sério que me tornei antropófago até na minha trajetória intelectual. Experimentei todos os sabores. Fui poeta, romancista, folclorista, crítico de várias artes, músico e pesquisador musical.


Durante três décadas fui o símbolo maior da vanguarda brasileira. Sou Mário de Andrade. Sou um cidadão negro brasileiro.

Cena 3

jards macalé

“Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são”, disse Mário de Andrade. Eu digo: sou JARDS MACALÉ. Sou um cidadão negro brasileiro.



Episódio Carolina Maria de Jesus (1914-1977)


carolina maria de jesus

Cena 1


Uma palavra escrita não pode nunca ser apagada. Por mais que o desenho tenha sido feito a lápis e que seja de boa qualidade a borracha, o papel vai sempre guardar o relevo das letras escritas. Não, senhor, ninguém pode apagar as palavras que eu escrevi.



Cena 2

Só passei dois anos dentro de uma escola. Isso foi lá em Minas, onde eu nasci. Foi pouco tempo, mas o suficiente pra eu descobrir que as palavras, se não conseguem mudar o mundo, servem pelo menos para contá-lo ou até inventar um mundo novo.

A gente sempre corre da miséria e corri de uma cidade pra outra até chegar em São Paulo. O problema é que não é fácil despistar a danada, e a miséria me achou aqui também.

Houve um tempo em que lugar de negro era na senzala. Hoje, trancam a gente na favela. No Canindé, como em qualquer outra, as bocas estão sempre famintas.


Alimentei, eduquei e amei meus três filhos. Catei papel, revirei lixo. Do papel também tirei meu alimento: a escrita.

Nem todo o papel eu vendia. Guardava um tanto para ter onde escrever. Foram neles que nasceu “Quarto de despejo”.

Foi assim que uma favelada como eu se tornou uma escritora brasileira traduzida em 13 línguas.

Fiz sucesso, ganhei um pouco de dinheiro, escrevi outros livros... Assim como as palavras, as pessoas que as escrevem não podem ser apagadas. Sou Carolina Maria de Jesus. Sou uma cidadã negra brasileira.


RUTH de Souza
“O Brasil precisa ser dirigido por alguém que já passou fome”, disse Carolina Maria de Jesus. E eu digo: sou Ruth de Souza. Sou uma cidadã negra brasileira.




ALEIJADINHO


CENA 1



aleijadinho

A Via Sacra começa aqui, na última ceia de Cristo. De santo eu não tenho nada. Mas esse filho de Deus que vos fala também viveu um calvário antes de ter o devido reconhecimento após a morte.



Cena 2

Nasci Francisco Lisboa, em Vila Rica, que hoje vocês conhecem como Ouro Preto. Meu pai me encaminhou nos ofícios da construção e dos entalhes.
Foto do púlpito da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.

Em pouco tempo, meus talentos corriam de boca em boca e não havia mãos capazes de dar conta de tantas encomendas.
Fotos de vários trabalhos de Aleijadinho espelhados pelas igrejas de Ouro Preto, Mariana e Sabará.


Onde tinha ouro, em Minas Gerais, era difícil achar uma cidade que não tivesse uma obra minha. Foram trabalhos e mais trabalhos, até que as mãos que tanto entalharam começaram a fraquejar, por causa de uma doença que ninguém nunca soube me dizer qual era.


Perdi os dedos, mas não a força e a vontade de esculpir. Aprendi a usar os joelhos como quem usa os pés. Amarrei os instrumentos às mãos para continuar a trabalhar. Afinal, a criação nasce na cabeça, não da ponta dos dedos.


E foi da minha criatividade que nasceu um estilo único de arte: o barroco brasileiro, admirado e respeitado no mundo inteiro. E desse estilo eu sou o grande mestre. Meu nome ficou à sombra de meu apelido. Me chamaram de Aleijadinho. Sou um cidadão negro brasileiro.

Cena 3

EMANOEL ARAÚJO
“Esculpi um evangelho em madeira e pedra-sabão”, disse Aleijadinho. E eu digo: sou EMANOEL ARAÚJO. Sou um cidadão negro brasileiro.




Hino da Negritude ( Aprovado em 10/09/2009)



Leia abaixo a letra do "Hino à Negritude", de autoria do professor Eduardo de Oliveira:

Hino à Negritude (Cântico à Africanidade Brasileira)

I
Sob o céu cor de anil das Américas
Hoje se ergue um soberbo perfil
É uma imagem de luz
Que em verdade traduz
A história do negro no Brasil
Este povo em passadas intrépidas
Entre os povos valentes se impôs
Com a fúria dos leões
Rebentando grilhões
Aos tiranos se contrapôs
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

II
Levantado no topo dos séculos
Mil batalhas viris sustentou
Este povo imortal
Que não encontra rival
Na trilha que o amor lhe destinou
Belo e forte na tez cor de ébano
Só lutando se sente feliz
Brasileiro de escol
Luta de sol a sol
Para o bem de nosso país
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

III
Dos Palmares os feitos históricos
São exemplos da eterna lição
Que no solo Tupi
Nos legara Zumbi
Sonhando com a libertação
Sendo filho também da Mãe-África
Arunda dos deuses da paz
No Brasil, este Axé
Que nos mantém de pé
Vem da força dos Orixás
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

IV
Que saibamos guardar estes símbolos
De um passado de heróico labor
Todos numa só voz
Bradam nossos avós
Viver é lutar com destemor
Para frente marchemos impávidos
Que a vitória nos há de sorrir
Cidadãs, cidadãos
Somos todos irmãos
Conquistando o melhor por vir
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

bis

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